Saturday, September 22, 2007

Entrevista: Stu Maddux

Stu Maddux esteve em Lisboa para apresentar o documentário Bob and Jack’s 52 Year Adventure, filme documental sobre um relacionamento de 52 anos entre dois homens norte-americanos. Na ocasião, e depois de uma sala cheia para ver o filme, falou connosco:


Como encontrou a história de Bob and Jack? Ou foi a história deles que o encontrou a si?
Bom, é um pouco assim que os documentários acontecem: as histórias passam à nossa frente e pedem para ser contadas... Um amigo meu apresentou-me a Bob e a Jack, e o primeiro tinha já escrita uma história da sua vida num bloco de notas. Li-a... E foi como ler a história da nossa família contada pelos nossos avós. Senti que daria um bom documentário.

E como pensou como transformar essas notas escritas num filme?
Procurei três coisas. Em primeiro lugar se tinha uma boa história, o que era um facto. Depois, se eles seriam ou não boas figuras frente a uma câmara, o que ao fim de pouco tempo foi evidente. A terceira coisa foi verificar que imagens teriam para apoiar visualmente esta história que queriam contar. Não os poderia manter a eles dois frente à câmara sem nada mais para mostrar. E a verdade é que o Bob e o Jack tinham guardado tudo, milhares de fotografias deles, lembranças, passaportes. Estava tudo numa quantidade espantosa de álbuns de fotografias. E grande parte do projecto foi dedicada à pesquisa nesses álbuns.

Há imagens criadas por si a dada altura, que fogem ao presente e a essas fotos. Porque as usou?
Usei-as porque havia momentos para os quais não tinha nada que mostrar. Não havia imagens do Jack a deixar a mulher e os filhos... Coloquei-me na pele deles, olhei em volta e procurei imagens que pudessem transmitir o que sentiram. Lembro-me de estarmos a beber café quando falámos da separação do Jack... Então resolvi usar imagens com chávenas e cafeteira para ilustrar esse momento em que a notícia rebenta em casa deles.

Bob e Jack são figuras reais, mas por vezes quase parecem figuras perfeitas criadas por bons actores...
Eles orgulham-se muito do facto de terem sido em tempos actores e figurantes, assim como fizeram rádio... Por isso consideram-se como uma equipa que se sabe comportar nestas situações. Há um pouco de representação da parte deles, talvez.

Bob e Jack acompanharam a construção do filme?
Montámos o filme e depois mostrámos-lhes o filme. E reagiram muito bem. Foi talvez a melhor reacção que tive num projecto meu... Mas isso deve ter acontecido porque foram actores e têm um sentido do que se deve mostrar e acrescentar. Reagiram muito bem. E desde então têm ido a muitos festivais connosco. Infelizmente a sua saúde não lhes permite ir a todos e por isso não vieram a Lisboa. Mas já cá estiveram e deram-nos indicações de coisas a ver e de restaurantes a não perder. Gostaram muito de Lisboa.

O filme retrata uma relação com 52 anos. Acredita em relações duradouras?
Não sabia se acreditava antes do filme, mas agora acredito. Bob e Jack têm os mesmos problemas de todos nós. Não são dois freaks... Tinha 38 anos quando comecei o filme e nunca tinha tido relações com mais de quatro anos... Sabia de uma ou outra mais longa, entre amigos, mas nada assim. Não tinha exemplos... E isso é uma das coisas que sai deste filme. Dá-nos um exemplo. E há mais...