O realizador alemão Stefan Westerwelle, de 27 anos, apresenta hoje na Sala 1 do Cinema São Jorge, pelas 16.30, o filme Solang Du Hier Bist, que começa a somar prémios internacionais. Trata-se de uma primeira obra, resultado de um trabalho de fim de curso, mostrando cenas do relacionamento de um homem idoso com um jovem prostituto. Antes da exibição do filme, o realizador falou connosco.
Este foi um filme de fim de curso. Teve de respeitar algumas regras impostas pela escola?
Foi um filme de fim de curso na Academy Of Media Arts em Colónia, que é uma escola de cinema muito especial na Alemanha, muito diferente das mais tradicionais. Trabalhamos em media arts, media design e cinema. Pelo que tive a liberdade total para fazer o que entendesse. Ninguém me disse sobre o que deveria falar o filme, não me foi imposta uma duração específica ou sobre como o deveria construir.
O que inspirou esta história?
A ideia não apareceu de um dia para o outro, num momento em específico. É um assunto que me acompanha há alguns anos. Depois de terminada a escola fui objector de consciência e prestei serviço num lar de idosos. Foi a primeira vez que fui confrontado com a morte e com a consciência de que, também eu, morrerei e que o ambiente à minha volta irá mudar. Tinha curiosidade também sobre saber o que é ser mais velho que eu. Essas eram as questões. Tentei aproximar-me de personagens mais velhos e maduros que eu, o que é uma abordagem talvez difícil, porque nem eu me imagino com 28 ou 30 anos, muito mais com 70... Tenho um amigo com 80 anos, que me acompanhou durante o tempo de escola. E com ele vi como mudam as coisas à nossa volta. Mas amar e ser amado não muda. Isso inspirou-me e definiu a base de toda a história.
Não se costuma ver personagens idosas no cinema queer...
Não apenas no cinema queer... E não é essa a única coisa que está ausente do cinema queer. O cinema de autor falta ostensivamente na cinematografia gay. Não sei porquê.
É um tabu retratar o desejo nos mais velhos?
Sim, é verdade. Mas creio que todas as respostas que tentasse agora dar seriam um lugar comum.
Por isso fez o filme? Para tentar evitar os lugares comuns?
Não. Mas não é um lugar comum, porque nos esforçámos por concentrar esforços em mais que apenas um assunto gay. Concentrámo-nos na criação do retrato de um velho.
O cinema fala muito de morte, mas poucas vezes por velhice...
Talvez porque seja pouco espectacular... Mas é a realidade. E isso não acontece apenas no cinema gay. As pessoas não encaram o seu futuro... A morte não faz parte da nossa consciência, daí os retratos de acidentes, assassínios, as coincidências.
A música acentua o ritmo lento do filme. Como a escolheu?
Foi uma entre as muitas coincidências deste filme, tal como o foram a escolha dos actores ou o ter encontrado a equipa certa. Aconteceu... Estava num café, depois de um dia de rodagem, e estava a pensar em qualquer outra coisa. No café estava a passar um CD que ouvi, e senti que essa deveria ser a música do filme.
O filme tem recebido prémios. Tem pensado no seu futuro como realizador?
Tenho, sim. O primeiro convite que tive para um festival foi em Locarno e isso mudou tudo. Antes não tinha a mesma auto-confiança... Não sabia bem o que ia fazer, porque fazer cinema pode não dar dinheiro... Mas a minha vida mudou depois desse festival. Já estivemos com o filme em 40 festivais, criámos um press release, temos produtores a querer trabalhar connosco, recebo argumentos...
O filme vai ter lançamento comercial?
Sim, estreia na Alemanha a 25 de Outubro. Depois haverá um DVD. E uma companhia francesa vai tentar vende-lo internacionalmente. O que sei que será difícil...