Tuesday, July 24, 2007

Apresentação do 11º Queer Lisboa

O Queer Lisboa – Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa tem esta responsabilidade: exibir importantes novas propostas cinematográficas, retrato e consequência das diversas realidades sociais das comunidades e indivíduos queer de todo o mundo, não acessíveis ao grande público. Nem sempre é uma cinematografia fácil e sem dúvida que não deixa de ser ainda algo incómoda. Mas ela irrompe com cada vez maior expressão nos festivais de cinema um pouco por todo o mundo.

A presente 11ª edição do Queer Lisboa prossegue a sua aposta central nas Secções Competitivas para Melhor Longa-Metragem, Melhor Documentário e Melhor Curta-Metragem. Olhando para as ficções em competição no formato de longa-metragem, não podemos deixar de pensar naquilo que constitui a herança, a construção de uma história, as linhas estéticas e narrativas próprias desta cinematografia queer. Também a Secção Competitiva para o Melhor Documentário pretende-se representativa deste género específico, na qualidade e reconhecimento que atingiu hoje. Da mesma forma, as Curtas-Metragens merecem uma secção própria, desta feita como Prémio do Público.

Paralelamente à nossa programação central, é de destacar o Panorama de Curtas-Metragens, uma secção dedicada a um conjunto de curtas de produção anterior a 2006.
Da Alemanha, chegam-nos dois Spots Contra a Homofobia: resultado de um projecto social exemplar, pelo conceito e pelo seu resultado final, ao qual damos o devido destaque.
The Blossoming of Maximo Oliveros foi seguramente um dos maiores êxitos no circuito dos Festivais queer mundiais de 2005 e 2006 e será por nós apresentado numa Sessão Especial de sexta-feira à noite.
Mas uma das grandes surpresas deste ano é seguramente a retrospectiva de uma Cinematografia Gay Portuguesa dos anos 70. Óscar Alves realizou um conjunto de filmes, curtas e médias metragens, entre 1975 e 1978, que são exemplo do fulgor de uma expressão cinematográfica injustamente esquecida, e que nos levanta importantes questões sobre a não continuidade de uma produção regular, em Portugal, de um cinema de expressão marcadamente queer.
Por fim, outro destaque da programação deste ano para a Secção Queer Pop, dedicada às expressões queer na música, dentro da qual apresentaremos dois documentários, bem como três programas de telediscos. Género recente, o teledisco tem ensaiado algumas aproximações a linguagens cinematográficas maiores, com enorme sucesso. As diferentes formas de pensar e viver o corpo, na sua articulação com a música e o cinema, são o mote desta proposta.

No âmbito de outra nossa responsabilidade que é a de promover a reflexão sobre temas suscitados pelas narrativas e estéticas cinematográficas queer, o Festival organizou três debates. Um sobre as Personagens Homossexuais na Ficção Televisiva Portuguesa, outro sobre Uma Cinematografia Gay Portuguesa dos Anos 70, a propósito da retrospectiva do cinema de Óscar Alves e, motivado pelo filme de encerramento, o debate Flores Verdes, ou a importância de se chamar Wilde, onde se falará da influência do dramaturgo irlandês no cinema e na cultura pop.

Os programadores do Queer Lisboa 11 seleccionaram para esta edição 88 títulos, de um universo de mais de 300 filmes queer, na sua maioria de 2006 e 2007, visionados entre Fevereiro e Maio deste ano. Cerca de um terço destes mais de 300 filmes, foram enviados ao Festival a selecção dos seus programadores.
A programação completa do festival e o calendário de sessões serão apresentados publicamente, em conferência de imprensa, no dia 4 de Setembro, no Cinema São Jorge, às 11h00.

João Ferreira
Director do Queer Lisboa
Vice-Presidente da Associação Cultural Janela Indiscreta

A estrutura do 11º Queer Lisboa

Total de filmes programados: 88
Número total de Sessões: 60

Secções:
Secção Competitiva para a Melhor Longa-Metragem
Secção Competitiva para o Melhor Documentário
Secção Competitiva para a Melhor Curta-Metragem – Prémio do Público
Sessão Especial
Panorama Curtas-Metragens
Panorama de uma Cinematografia Gay Portuguesa dos Anos 70
Spots Contra a Homofobia
Queer Pop – documentários e 3 sessões comentadas de telediscos


CERIMÓNIA DE ABERTURA
Sexta-feira, 14 de Setembro, Sala 1, 21h00
Abertura oficial do Queer Lisboa 11, com a apresentação das Secções Competitivas e do Júri Internacional.

Filme de Abertura (Sexta-feira, 14 de Setembro, 21h30, Sala 1, 21h30):
A Casa de Alice de Chico Teixeira
(Brasil, 2007, 90’)
v. o. portuguesa legendada em inglês


CERIMÓNIA DE ENCERRAMENTO
Sábado, 22 de Setembro, Sala 1, 21h00
Entrega dos Prémios da Competição para Melhor Longa-Metragem, Melhor Documentário e o Prémio do Público para Melhor Curta-Metragem.

Filme de Encerramento (Sábado, 22 de Setembro, Sala 1, 21h30):
The Picture of Dorian Gray de Duncan Roy
(E.U.A., 2006, 97’)
v. o. inglesa s/ legendas

SESSÃO ESPECIAL
Sexta-feira, 21 de Setembro, Sala 1, 22h00
The Blossoming of Maximo Oliveros de Aureaus Solito
(Filipinas, 2005, 105’)


Debates:
Personagens Homossexuais na Ficção Televisiva Portuguesa

Sábado, 15 de Setembro, Sala 2, 15h30

Se é verdade que, há já alguns anos, temos sinais de uma presença regular de figuras homossexuais na ficção televisiva a nível internacional, só recentemente o mesmo começou a acontecer em Portugal. Quer se fale de estratégias de produção e comercialização, da escrita ou dos actores que se tornam o rosto visível destas personagens, chegou talvez a altura de reflectir sobre esta ficção televisiva que ameaça tornar-se um espelho da diversidade sexual que sabemos existir no "mundo real".

Uma Cinematografia Gay Portuguesa dos Anos 70
Terça-feira, 18 de Setembro, Sala 2, 19h30

O conhecimento DA existência de uma cinematografia gay portuguesa dos anos setenta desvaneceu-se ao ponto de constituir uma quase completa surpresa para quem a redescobre. Mas que a houve, houve. O Queer Lisboa 11 apresenta quatro curtas-metragens dessa época, realizadas por Óscar Alves: Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi ou o processo intrínseco global kafkiano de uma vedeta não analisada por Freud (1978), O Charme Indiscreto de Epifânea Sacadura (1975), Good-bye Chicago (1978) e Solidão Povoada (1976).


Flores Verdes, ou a importância de se chamar Wilde
Sábado, 22 de Setembro, Sala 2, 15h30

Esteta, dandy, mártir e ícone gay, Oscar Wilde defendeu a ideia segundo a qual a vida imita a arte, e não o contrário. Fêz uma apologia anti-naturalista DA arte de viver segundo critérios de estilo contra modelos impostos que se tornaria em modelo de referência do construcionismo queer. Obras suas como O retrato de Dorian Gray inspiraram um caudal de versões cinematográficas que exploram OS temas do duplo e do uncanny. A apresentação DA mais recente destas versões no Queer Lisboa 11 é ocasião para debater o seu legado.


Júri da Secção Competitiva para a Melhor Longa-Metragem:
Cucha Carvalheiro (Actriz, Lisboa) – Presidente do Júri
Ales Rumpel (Director e Programador do Festival Mezipatra, Praga)
Giuseppe Savoca (Programador do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Turim)
Inês Meneses (Radialista, Lisboa)

Júri da Secção Competitiva para o Melhor Documentário:
Ana Luísa Guimarães (Realizadora, Lisboa) – Presidente do Júri
Fernanda Câncio (Jornalista, Lisboa) Matteo Colombo (Programador do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Milão)

Filme de abertura

A Casa de Alice
Realização: Chico Teixeira
Brasil, 2007, 90’
Longa-metragem de Ficção


Um bairro de classe operária da cidade de São Paulo. Alice, uma manicure de 40 anos, é casada há 20 com Lindomar, um taxista. Vivem com os três filhos e com a mãe de Alice, que cozinha, limpa e lava a roupa ao som do seu programa de rádio favorito. O casamento atravessa uma crise e Lindomar nada faz para esconder as suas aventuras com raparigas mais novas. Nenhum dos três irmãos presta muita atenção à mãe e tratam a avó com falta de respeito. A vida de Alice no seu universo laboral feminino contrasta fortemente com a poderosa presença masculina em sua casa. Ela inveja as suas clientes e esse sentimento torna-se num pesado fardo. Apesar de ser uma boa mulher, a oportunidade de uma traição vem desvendar outros segredos.

Filme de encerramento

The Picture of Dorian Gray

Realização: Duncan Roy
E.U.A., 2006, 97’
Longa-metragem de Ficção

A beleza é subjectiva, a juventude indisputável. Daí que o casting do Dorian Gray de Duncan Roy nunca tenha partido da ideia de um bonito rapaz, mas antes da sua juventude, uma obsessão da sociedade em que vivemos. Baseado na versão mais gay, da editora Lippincott, da única novela de Oscar Wilde, Roy assina uma versão contemporânea desta fábula clássica sobre a corrupção da alma, contextualizando-a no mundo da arte nova-iorquino. Aqui, explora a relação entre o marchand, o artista e o coleccionador, olhando para o modo como a arte influencia e molda as nossas percepções, tal como no prefácio de O Retrato de Dorian Gray: “Revelar a obra e ocultar o artista é o objectivo da arte… Toda a arte é simultaneamente superfície e símbolo”.

Sessão especial

Ang Pagdadalaga ni Maximo Oliveros – The Blossoming of Maximo Oliveros

Realização: Aureaus Solito
Filipinas, 2005, 105’
Longa-metragem de Ficção

A pureza do primeiro amor é maculada pela miséria e corrupção dos bairros de lata de Manila, espaço onde decorre a acção de The Blossoming of Maximo Oliveros. Maxi, um rapaz gay na pré-adolescência, é profunda e serenamente dedicado à sua família de pequenos ladrões. Ele limpa-lhes a casa, cozinha para eles, lava-lhes a roupa, remenda-lhes os jeans esfarrapados, e, quando necessário, encobre os seus passos. O seu mundo gira em torno do seu pai e dos seus dois irmãos, que o amam e protegem. Até que Maxi conhece Victor, um polícia honesto, com bons princípios e bom aspecto. Os dois tornam-se amigos. Victor inspira em Maxi a esperança de uma vida melhor, o que vai provocar a ira da família de Maxi.