O documentário Fora da Lei, de Leonor Areal, sobre a recente tentativa frustrada de casamento de duas lésbicas portuguesas passou ontem na Sala 3, integrada na secção competitiva de Melhor Documentário do Queer Lisboa 11. Na ocasião, trocámos algumas palavras com a realizadora.
Como tomou conhecimento desta história?
Como toda a gente. Abri o Público num sábado de manhã e vi que ia haver um casamento daí a uns dias. Aquela tentativa de casamento. Arranjei o telefone, telefonei-lhes e propus-lhes acompanhar aquela situação como documentário e não como jornalista. Elas aceitaram, mas naquele período em que estavam rodeadas por jornalistas não havia lugar para mim nem elas tinham disponibilidade. E acabaram por me chamar mais tarde quando as coisas começaram a complicar-se.
A ideia de fazer o filme nasce apenas da leitura dessa notícia?
Eu já tinha a ideia de fazer um filme sobre uma família homoparental por ser uma situação interessante, pouco conhecida, que provoca muitas reacções epidérmicas ou não... Ou mais profundas. Achava que era interessante desmontar esse preconceito. Quando elas surgiram percebi que elas poderiam ser essa família, até porque cada uma tem uma filha. É uma família modelo com uma pequena alteração de género. Uma das filhas está com elas, portanto vive o quotidiano com elas. E a outra foi retirada à mãe por ela ser lésbica. Havia ali um conflito e um paralelismo que poderia ser interessante.
Como acompanhou o desenrolar da história?
Não evito envolver-me, pelo contrário. Quando vou fazer um documentário, a câmara é um canal de envolvimento até mais perto do que as pessoas julgam. Posso fazer um zoom, posso concentrar-me na imagem que escolho. É claro que nesse processo de envolvimento estou sempre a fazer cálculos mentais acerca de realização, montagem, estratégia... Estou, de qualquer maneira sempre envolvida. Além das pessoas e da situação, estou envolvida com a construção do filme.
Porque há tão pouca produção documental sobre as vivências queer em Portugal?
Não sei responder a isso. O assunto assusta muita gente, mas porquê não sei. Nem percebo...