Mysterious Skin - Pele Misteriosa assinala a primeira experiência com grandes meios de produção para o realizador Gregg Araki, uma das mais destacadas figuras do chamado new queer cinema. Estreado em 2005, chegou às nossas salas no Verão de 2007 e, agora, surge em DVD numa edição simples, sem extras.
Esta é, a traços largos, a história de dois rapazes com raízes numa mesma pequena cidade remota no interior dos EUA. O reencontro, no presente, coloca juntas duas vidas separadas desde a infância, na sequência de um incidente que moldaria as vidas de ambos. Abusados, cada qual interioriza o choque traumático à sua maneira. Brian (interpretado por Brady Corbet, que brevemente veremos numa nova versão de Funny Games, de Michael Haneke), que sofreu uma “branca” na memória, recordando apenas o retomar dos sentidos na cave de sua casa, a sangrar do nariz, pensa que foi raptado por extraterrestres. Nick (soberba interpretação do promissor Joseph Gordon-Levitt, que em 2006 um ano vimos em Brick, de Rian Johnson), por seu lado, cresceu seguro, popular, rebelde, saudável. Mas assombrado por uma dúvida: o que é o amor? Dúvida cuja resposta vai tentar encontrar em Nova Iorque. Separados, um procura respostas nas estrelas, enquanto o outro chega a experimentar encontros (que não os do terceiro grau) com os homens que lhe aparecem pela frente. Um amigo comum vai juntar os seus caminhos e, do reencontro, afinal, resposta que, na verdade, já esperavam...
Neste filme, Gregg Araki aborda com evidente cautela gráfica as sequências que ilustram a memória remota dois rapazes. Nesse aspecto, o filme é, como Araki definiu à altura da sua estreia, “muito discreto”, sublinhando opções que privilegiaram "os pontos de vista subjectivos" das personagens centrais.
O filme é baseado no primeiro romance do escritor norte-americano Scott Heim, que Araki leu no ano da sua edição (1996). Começou então por trabalhar uma primeira proposta para uma possível eventual adaptação para o cinema, submetendo-a ao atelier de desenvolvimento de argumentos do Festival de Sundance. Nada aconteceu. Em 2003, depois de um grupo de teatro de São Francisco ter adaptado o texto original para uma produção que lhe deu alguma visibilidade, Gregg Araki, retoma o velho projecto, e escreve ele mesmo o argumento. Fala com o escritor, procurando consentimento para integrar no filme algum do lirismo do romance e restituir a proximidade com a sua fonte original.
Nota final para a soberba banda sonora, resultado de uma parceria entre Harold Budd e o ex-Cocteau Twins Robin Guthrie, que encetou um relacionamento profissional entre ambos os músicos, que ainda hoje se mantém vivo.