Sunday, January 6, 2008

Do Festival para o DVD
Gypo
Jan Dunn, 2006

Primeira longa-metragem da realizadora britânica Jan Dunn, Gypo, integrou a competição na décima edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, em 2006. Tal como então revelaram a realizadora e produtora, que na ocasião estiveram em Lisboa, o filme nasceu de um muito limitado orçamento, recorrendo ambas, apenas, aos seus cartões de crédito. Gypo, todavia, tornou-se um filme não só internacionalmente premiado (venceu galardões nos British Independent Film Awards e o festival Frameline, de São Francisco), como até se revelou, depois de estreado, um caso comercialmente bem sucedido. O seu sucesso e visibilidade garantiram o financiamento suficiente para uma segunda produção da mesma equipa – Ruby Blue, com Bob Hoskins, estreado em 2007 – estando neste momento a realizadora a trabalhar na pré-produção de nova longa-metragem, que terá Brenda Blethyn no papel protragonista.

Por necessidades de produção, ou seja, as já referidas limitações orçamentais, Gypo aceitou as regras Dogma 95 para narrar a pungente história de três personagens, duas delas Helen (Pauline McLyn, uma acriz veterana sobretudo com história feita em papéis de comédia) e Paul, formando um desencantado casal de classe proletária inglesa residente em Margate, a terceira sendo uma jovem refugiada vinda de leste, que, juntamente com a mãe, são alvo de manifestações de xenofobia pela comunidade local. A desagregação do casal inglês é central ao lançamento da trama e revela-se inevitável pela palavras e acções desagradáveis, ensopadas em preconceitos, intolerância e ignorância que Paul lança contra a jovem Tasha que, por sua vez, acabará por lembrar à mais velha Helen o que é ser alvo de cuidada atenção, e mesmo amor, verdades que um casamento de 25 anos há muito esqueceu (se é que alguma vez conheceu).

Cada história tem três lados, três ângulos que permitem a quem está de fora a visão plena e justa dos factos. Assim sendo, o filme surge dividido em três partes, cada qual centrada no protagonismo de cada uma das três personagens centrais. A história é, assim, servida de pontos de vista distintos, uns completando as revelações dos outros. Engenhoso golpe de asa narrativo sobre um argumento sólido e interpretações convincentes. Ou seja, contra o que vimos noutros filme “dogma”, nos quais o dispositivo formal parece ofuscar os realizadores pelas suas características visuais e técnicas, em Gypo o “dogma” é apenas ferramenta ao serviço de uma história que Jan Dunn mostra saber contar. Como escapou um filme como este ao circuito comercial? - N.G.

Gypo surgiu já em edição em DVD no Reino Unidos e EUA. A edição inglesa (Região 2) apresenta, além do filme, a hipótese de visionamento com comentários da realizadora, assim como um making of que dá conta do ambiente informal em que a produção decorreu, sublinha o engenho da equipa de produção perante um tão limitado orçamento e revela o entusiasmo com que os actores aderiram ao projecto. A edição inclui legendas em inglês.