Thursday, January 10, 2008

Do Festival para o DVD
Red Without Blue
B. Seabold, B. Sills e T. Sills, 2007

Premiado em diversos festivais, entre os quais Sundance, São Francisco, Toronto, Silverlake ou Miami, Red Without Blue integrou a secção competitiva de documentários em longa-metragem do Queer Lisboa 11 e recentemente foi exibido na RTP N. Realizado por Brooke Sebold, Benita Sills e Todd Sills, o filme coloca-nos perante a história de Mark e Clair, hoje um jovem estudante de pintura e uma finalista de sociologia e psicologia nascidos, há 23 anos, como gémeos idênticos. Nasceram, portanto, rapazes. Alex, o primeiro, foi imediatamente vestido a azul. Mark, logo depois, a vermelho. Cresceram juntos, numa família que revelaria não estar preparada para certas mudanças, quando estas começaram a surgir. Depois do divórcio dos pais, a história da família assiste ao outing de Alex. Pouco depois ao de Mark... A sua relação com a escola e colegas deteriora-se, sobretudo com o consumo de drogas, que inclusivamente começa a afastar os irmãos, atingindo-se um quase ponto de ruptura numa tentativa de suicídio, aos 15 anos de idade. Separados para programas de desintoxição distintos, passaram dois anos longe um do outro. E no momento do reencontro, Alex revela ao irmão que quer ser Clair.

Esta é a trama que nos conduz à história, no presente, que vemos em Red Without Blue. O filme lembra a cadência narrativa e, inclusivamente, certas marcas de estilo do Tarnation de Jonathan Caouette. É mais que uma mera colagem de entrevistas. Antes, dissemina-as, ciente de que há uma narrativa a contar, e não apenas palavras a escutar. Usa o flashback, observa os protagonistas e o ambiente que os envolve, sugere mesmo processos de empatia (as figuras, apesar de reais, quase têm uma aura de cativantes personagens de ficção), evita as habituais “rasteiras” televisivas e usa, nos momentos certos, uma banda sonora bem escolhida (de Antony & The Johnsons e CocoRosie aos Magnetic Fields). O filme assenta, apesar das incursões pelo passado, no presente que assiste ao reencontro dos irmãos. Tocante, cinematograficamente exigente, Red Without Blue é um dos melhores documentários LGBT dos últimos anos. N.G.

Está já no mercado internacional uma edição em DVD de Red Without Blue. O DVD (lançamento em zona 0) tem leitura em qualquer aparelho. Além do filme (com 74 minutos de duração), o DVD propõe alguns extras interessantes, nomeadamente uma galeria de cenas cortadas (revelando estas uma correcta opção dos realizadores), imagens (em fotografia e uma sequência em vídeo) do trabalho artístico de Mark, uma entrevista com os gémeos onde se fala dos efeitos do filme nas suas vidas e na sua relação com a família, e uma outra, feita pelos irmãos aos três realizadores, onde estes explicam como chegaram a esta história, a transformaram em cinema e depois viveram o impacte que a exibição de Red Without Blue tem vindo a ter, sobretudo no circuito de festivais de cinema. A edição não é legandada.