Monday, September 14, 2009

Queer Lisboa 13: A apresentação

Num ano em que a crise económica internacional marca as vidas de todos, é bem sabido que a cultura, não tida como um bem essencial, é uma das primeiras vítimas de sucessivos cortes orçamentais, particularmente por parte da iniciativa privada. Apesar de um decréscimo na ordem dos 20% em termos de orçamento global em relação à sua edição anterior, foi-nos possível garantir os principais apoios para a presente edição, de forma a mantermos a qualidade que o nosso público merece e a que nós nos exigimos. Desta forma, o Queer Lisboa 13 – 13º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, a decorrer entre 18 e 26 de Setembro, nas três salas do Cinema São Jorge, promete continuar a ser a maior celebração da cultura queer no nosso país.

Com um total de 95 filmes programados, pretendemos que esta selecção seja uma mostra do melhor que foi produzido nos passados dois anos, de entre os mais de 500 títulos que foram visionados pelos nossos programadores. O Cinema Queer é já um género estabelecido e o Queer Lisboa a sua principal montra entre nós. E é esta responsabilidade que foi estruturando o Festival nas suas diferentes secções, oferecendo uma leitura temática e crítica destas mesmas cinematografias, para além de um conjunto de novidades na presente edição que, partindo do cinema, celebram a cultura queer nas suas mais diversas manifestações.

Na Gala de Abertura do Queer Lisboa 13, a decorrer no dia 18 às 21h00, na Sala 1 do Cinema São Jorge, será apresentado o Júri Internacional e Convidados Oficiais, bem como toda a programação e eventos do Festival, numa cerimónia que promete algumas surpresas…
Como filme de abertura será exibido, no dia 18 de Setembro, pelas 22h00, em antestreia nacional, Morrer como um homem, a nova longa-metragem de João Pedro Rodrigues, com a presença do realizador, elenco e equipa técnica. O filme teve primeira exibição mundial no Festival de Cannes em Maio deste ano. Antes de Lisboa o filme terá ainda estreia americana no Festival Internacional de Cinema de Toronto. A sessão conta com apoio da Rosa Filmes e da Zon-Lusomundo. Depois de em 2000, no 4º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, termos apresentado a sua primeira longa-metragem, O Fantasma (2000), para uma sala ocupada bem acima da sua capacidade de 700 lugares, no Fórum Lisboa, é uma honra para nós acolher a antestreia nacional do mais recente filme de João Pedro Rodrigues. A estreia comercial do filme em salas portuguesas está marcada para o mês de Outubro.

Numa nova iniciativa, o Festival irá dirigir anualmente o convite a um realizador nacional para realizar o spot publicitário. O Queer Lisboa 13 contará assim com um spot de 20 segundos idealizado e realizado por João Pedro Rodrigues, com a voz de Ana Zanatti. Pretende-se que este importante veículo de promoção do Festival seja, ele próprio, cinema. Todos os anos, um novo realizador emprestará a sua visão à construção da imagem do Festival.

Na Secção Competitiva para a Melhor Longa-Metragem de Ficção, com 10 títulos a concurso, o júri internacional é este ano constituído pelo escritor Richard Zimler (E.U.A., Portugal), pela actriz e encenadora Isabel Medina (Portugal), pelo crítico de cinema Boyd van Hoeij (Luxemburgo), pela programadora Florence Fradelizi (França) e pela programadora e distribuidora Ricke Merighi (Itália). O Júri desta secção elegerá o Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actriz.

Na Secção Competitiva para o Melhor Documentário concorrem 10 títulos e o Melhor Filme será escolhido pelo Júri constituído pelo psicólogo Nuno Nodin (Portugal), pela programadora Melissa Pritchard (Alemanha) e pelo realizador Oded Lotan (Israel).

A Secção Competitiva para a Melhor Curta-Metragem conta com 26 filmes a concurso, e o Melhor Filme será eleito pelo público do Festival, segundo votação de 1 a 10 à saída de cada sessão. O valor pecuniário dos prémios da competição, patrocinados por diversas entidades privadas, é de 1.000,00€ para a Melhor Longa-Metragem, 1.000,00€ para o Melhor Documentário, e de 500,00€ para a Melhor Curta-Metragem. Os prémios de Melhor Actor e de Melhor Actriz da Competição para a Melhor Longa-Metragem, são Prémios de Menção.

Este ano, na Secção Panorama Longas-Metragens, foi programado um conjunto de títulos que aborda a temática da juventude. Foram frequentes as histórias de saída do armário e de descoberta da sexualidade que marcaram o cinema gay na sua fase de afirmação nos anos 1990. As seis longas-metragens que propomos nesta secção revelam-nos como a abordagem desta temática específica evoluiu nestes últimos anos, cruzando-se, quer com temas mais sombrios e arriscados, quer com uma percepção de múltiplas formas de viver-se a sexualidade, com cada vez menor peso de qualquer factor traumático.

Uma aposta ganha da edição anterior do Queer Lisboa foi, sem dúvida, a Secção Queer Art, dedicada às cinematografias mais experimentais e de carácter mais marginal, bem como a uma mostra documental versando as mais diversas personalidades que contribuíram para a afirmação e divulgação da cultura queer. Para a presente edição do Queer Art, dedicaremos dois programas ao particular trabalho de dois realizadores: o austríaco Albert Sackl e o americano Michael Cox, em duas propostas de perspectivar a representação do eu. No formato de Longa-Metragem, serão exibidos três documentários e uma ficção – quatro propostas radicalmente diversas entre si e ilustrativas do factor de transgressão na arte. Por fim, um programa de curtas lésbico e um programa gay, onde um conjunto de realizadores propõem uma forma particular de olhar e pensar o corpo, fecham esta secção.

Ainda no contexto do Queer Art, e numa procura de cruzar as várias linguagens e abordagens à cultura queer, este ano apresentamos uma exposição de artes plásticas, com curadoria de João Mourão e Nuno Ramalho. Com inauguração marcada para as 19h00 do dia 19 de Setembro, a exposição Shocking Pinks estará patente nos vários espaços do Cinema São Jorge, até final do Festival. Participam na mostra os artistas plásticos: Ana-Perez Quiroga, André Alves, Ângelo Ferreira de Sousa + Carla Cruz, Carla Filipe, João Leonardo e Luísa Cunha, com uma participação especial do colectivo CALHAU!

A Secção Queer Pop apresenta este ano dois programas de telediscos, comentados por João Lopes e Nuno Galopim. O Programa 1 é uma mostra do mais emblemático que foi produzido nos últimos dois anos, em termos de cruzamento das linguagens musicais com as estéticas queer audiovisuais. O Programa 2 é uma homenagem a dois nomes maiores da música francesa, Mylène Farmer e Zazie, dois casos onde o uso do teledisco foi sempre mais além do mero objectivo promocional. O Queer Pop conta ainda com a exibição de dois documentários: um sobre a banda Pansy Division e um outro dedicado a esse nome maior do panorama musical norte-americano, Arthur Russell.

Às meias-noites na Sala 1, estão de regresso as populares Noites Hard. Não restam dúvidas hoje que a pornografia gay foi pioneira e teve uma importância central na legitimação da homossexualidade. Durante anos, foi neste cinema que jovens (e menos jovens) gays, se reviam, não só em termos do seu desejo, mas como percepção do mesmo como coisa normal. As Noites Hard do Queer Lisboa 13 prestam homenagem a este cinema, através de um conjunto de sessões vintage, gay e lésbicas. E porque o cinema de conteúdo mais explícito não se restringe aquele hoje amplamente divulgado pela indústria para adultos, é esta também a oportunidade de conhecer um conjunto de produções recentes de cineastas que exploram este género, elevando-o a novos patamares de experimentação visual e narrativa.

Outra grande novidade da presente edição do Queer Lisboa, é a criação do Espaço da Memória. Durante sete dias consecutivos, a Sala Buondi abre-se a todos, entre as 19h00 e as 21h30, de forma a celebrar um conjunto de efemérides. Através da programação de concertos, sessões de poesia, sessões de cinema, conversas com várias personalidades ou desafios ao público, assinalaremos os cem anos sobre o nascimento do pintor irlandês Francis Bacon, os vinte anos sobre a morte de António Variações, os cinquenta anos sobre a morte de António Botto, o 40º aniversário dos motins de Stonewall, os dez anos volvidos sobre a morte de Amália, os vinte anos da queda do muro de Berlim e os quarenta anos sobre a morte de Judy Garland. Ainda no contexto do Espaço Lounge, serão exibidos dois filmes, ligados a estas efemérides: Westler: East of the Wall, de Wieland Speck, e The Wizard of Oz, de Victor Fleming, em cópia de 35mm, numa colaboração da Cinemateca Portuguesa com o Queer Lisboa, e que terá exibição em grande ecrã na Sala 1.

Presente há já vários anos no Queer Lisboa, será de novo montado o Queer Market, a funcionar no foyer do 1º piso do Cinema São Jorge, com a venda de livros e DVD de temática queer. O Queer Market tem sido o reflexo de como – embora ainda lentamente, se comparado com a restante Europa ocidental –, o mercado nacional livreiro e da distribuição em DVD tem aderido a esta temática. No decorrer do Festival, associamo-nos ao lançamento de mais três DVD em território nacional: The Living End, Fora da Lei e The Celluloid Closet.

No Sábado, dia 26, às 21h00, tem lugar a Gala de Encerramento do Queer Lisboa 13. Oportunidade para conhecer os vencedores das diferentes categorias das secções competitivas, anunciados pelo Júri Internacional. Às 22h00, será exibida a longa-metragem norte-americana Were the World Mine, realizada por Tom Gustafson, uma comédia musical gay, vencedora de dezenas de prémios nos mais prestigiados Festivais de Cinema.

Uma vez mais, o Cinema dos E.U.A. é aquele mais representado na presente edição do Queer Lisboa, reflexo da pujança do mercado comercial e independente neste país, com um total de 29 filmes. A produção portuguesa está representada com um total de sete títulos, a par com o Brasil. Outros países com uma expressiva representação são o Reino Unido (9), a Áustria (9) ou a Alemanha (8). Países com uma crescente produção de cinema queer, como a Coreia do Sul, México, Israel, Tailândia ou Taiwan, estão de igual modo presentes na nossa programação.

O Queer Lisboa 13 está lançado. E porque o Cinema Queer é um Cinema que fala das vidas de todos e todas, também este Festival é para todos e todas. São as vidas de todos nós no grande ecrã. Estamos no São Jorge à sua espera!

João Ferreira
Director do Queer Lisboa