Baseado no romance homónimo de Brian Aldiss (Brothers Of The Head, originalmente publicado em 1977), Até Que A Morte Os Separe, realizado em 2005 pela dupla de realizadores Keith Fulton e Louis Pepe passou ao lado das atenções quando, em finais de 2007, chegou ao circuito português de DVD. Na essência, este é um filme sobre cultura rock’n’roll, com acção projectada na Inglaterra de meados de 70, em tempo de revolução de hábitos e sons, via. Mais ainda, o filme nasce próximo da linguagem do documentário, apresentando-se como um “mockumentary” (um documentário ficcionado), propondo-nos assim uma ideia de filme dentro de um filme. No centro da acção estão Tom e Barry, uma dupla de irmãos siameses, ligados pela barriga que, dotados de invulgares talentos musicais, são alvo da atenção de um ambicioso e oportunista agente que rapidamente os transforma em Bang Bang, a banda tornando-se uma emergente sensação da cena pop/rock de então, até que algo corre mal...
Não se trata de um filme explicitamente gay, mas em Até Que A Morte os Separe, a questão da(s) sexualudade(s) é quase tão central quanto a trama musical que define a história. O relacionamento dos irmãos é, então, o ponto de partida para toda a história, a sua sexualidade emergindo distinta quando um deles se envolve com uma jornalista que procura fazer uma reportagem sobre a banda e, mais tarde, numa festa, vemos o outro pontualmente envolvido com um homem. A eventual homossexualidade de Tom nasceu no trabalho de adaptação do romance, não fazendo portanto parte do quadro de ideias do romance de Aldiss no qual, de resto, se explora a tomada de consciência de uma terceira identidade, também siamesa, ligada aos gémeos. Uma reflexão sobre a inevitabilidade de uma ligação permanente, com condimentação de sexo, drogas e rock’n’roll, Até Que A Morte os Separe revela cuidado na construção não só da narrativa como do contexto. Aqui, de resto, ao sugerir os Bang Bang como um eventual elo perdido entre o proto-punk nova iorquino, o glam rock britânico e o punk na terra de Sua Majestade, o filme acaba por se revelar um dos mais curiosos exemplos de ficção sobre cultura rock’n’roll que o cinema conheceu na presente década.
A muito recente edição portuguesa de Até Que a Morte os Separe em DVD, assegurada pela Lusomundo, junta ao filme uma pequena selecção de extras, entre os quais um extenso conjunto de entrevistas (com os realizadores, argumentista, autor da música e actores), 11 minutos de imagens da rodagem do filme (revelando, por exemplo, o laborioso trabalho de caracterização dos dois irmãos actores ou uma momento de filmagens de concerto ao vivo) e um curto documentário que sistematiza e arruma ideias centrais sobre o filme.