Monday, September 21, 2009

Shocking Pinks
André Alves

O poder investido nos símbolos e a pertinácia da sua força sobre a corporeidade do físico, parece-nos longínqua, se atentadas a correspondência actual. A desvalorização do simbólico, ou melhor, a ineficácia e a descrença nele, caracterizam a quietude da guerra profundamente gelada em que a cultura visual se encontra. Os problemas da cultura visual parecem continuar viciados à qualidade da tradução, da representação, isolando-se da qualidade de emaranhado, vector, potencial. O próprio registo de mirada entra aqui em conflito, já que uma mirada sem deslocamento, relacionação não possui qualquer valor.
O quadro de análise da qualidade do olhado, da relação do mirado (e até, da miragem), em vista à mais prolixa especulação da cultura visual em conta poder e a qualificação do representado, tem aqui um espaço de interpretação privilegiada. E fá-lo recorrendo a modelos icónicos aceites, reconhecidos e óbvios.
Aludir à clássica definição de Duelo importa como ressalva da importância do símbolo/emblema e a sua consequência sobre as estruturas em que se define. Seja embora esta ideia algo doméstica, e a identificação dessa luta um debate bastante esgrimido é precisamente dela que se molda esta proposta.
"Refreio abjecção reflexo" constitui-se por dois desenhos de grandes dimensões, criados para ocuparem as caixas /vitrinas de vidro existentes no vão de escadas do S. Jorge.
Estes desenhos apresentam e caracterizam os emblemas de duas forças em oposição: Narciso e Medusa. As figuras olham-se e apontam contra o vidro: apontam-se, responsabilizam-se e a quem entre eles se intromete. Na superfície do vidro corre uma linha, como se traçada. É a linha da acção entre o querer ver e ser visto, entre não poder senão a ilusão e o toque como irremediável sinal do abjecto.



André Alves nasceu em Gaia em 1981. Licenciou-se em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2005 e frequenta o Mestrado em Ensino das Artes Visuais (FPCEUP/FBAUP). É o actual bolseiro da Comissão Fulbright/Fundação Carmona e Costa para a realização de Mestrado em Belas Artes nos E.U.A., para os anos académicos 2009/2011. É membro do grupo de intercâmbio cultural "Identidades", do colectivo artístico "Senhorio", e do projecto "Colector". Participou em várias exposições com destaque para: "Acercado" na galeria Reflexus Arte Contemporânea (2009); "A ordem dos fingimentos" na Casa Museu Abel Salazar (2009); "Tempo" no Museu D.Diogo de Sousa (2009); "Dispersão" no Fórum Cultural de Vila Nova de Cerveira "Apaixonei-me por uma longínqua distância" no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (2007);"O estado novo que é o antigo" na galeria Reflexus Arte Contemporânea (2007), "Coisa, controlada pelo medo de Identificação" no In.Transit, Porto (2007); "Como ser Invisível" no Museu da Sociedade Martins Sarmento (2006); "Different Places" no Westfries Museum, Hoorn (2006); "All my independent Women I, II & III" uma colecção de trabalhos feministas comissariada por Carla Cruz, em Guimarães, Braga e Lisboa (2005/06); "Aunt Nell Gis" na Kunstvlaai 06 (2006); "3 Large Drawings" no Hotel Mariakapel (2006).