Sunday, March 30, 2008
Todd Haynes de regresso aos ecrãs
Acaba de estrear entre nós o filme Não Estou Aí (I'm Not There no original), o mais recente de Todd Haynes, um dos cineastas fulcrais na definição do conceito de new queer cinema nos inícios da década de 90. Conjunto de visões em volta das múltiplas personalidades e fases (criativas e vivenciais) de Bob Dylan, usando para tal actores entre os quais Cate Blanchett, Heath Ledger ou Christian Bale, Não Estou Aí recorda formalmente um dispositivo narrativo, fragmentado, que o mesmo Todd Haynes usou na sua primeira longa-metragem, Veneno (de 1991), filme que B. Ruby Rich tomou como um dos marcos para a identificação do que então designou por new queer cinema em histórico artigo publicado na Sight & Sound, em Setembro de 1992.
Thursday, March 27, 2008
Spider Lillies sai em DVD
O filme que venceu a edição de 2007 do Teddy Award, em Berlim, começa agora a ter distribuição em vários territórios europeus. Spider Lillies, um drama lésbico com origem em Taiwan, é o segundo filme de longa metragem de ficção de Zero Chou, com carreira essencialmente feita até aqui no cinema documental. Com marcas de contemporaneidade da era da comunicação virtual, plasticamente consistente, o filme marcou presença nos festivais de cinema gay e lésbico no ano passado. Spider Lillies terá edição em DVD no mercado britânico com o filme na sua versão original, com legendas em inglês, a 6 de Maio. O lançamento é assegurado pela Wolfe Video.
Sunday, March 23, 2008
Em Paris...
Chega esta semana ao mercado nacional de DVD o filme As Canções de Amor, do realizador Christophe Honoré (o mesmo de Em Paris e A Minha Mãe). É um musical. Mas não apenas um musical. É um filme dramático, no qual o recurso à canção não surge por mero dispositivo de deleite estético, mas para, de outra forma, sublinhar a intensidade de certos instantes. A voz cantada, por vezes, escuta-se com outra atenção... Atenção que não faltou aos espectadores em sala, nem aos pares de Honoré no cinema francês, tanto que o filme venceu o César deste ano para Melhor Banda Sonora. Nota portanto para uma das características da edição em DVD de As Canções de Amor que, além da galeria de extras (entrevista em Lisboa com Garrel e Honoré e imagens de um jantar com o realizador e elenco) apresenta um CD adicional com a banda sonora.
As canções que escutamos neste filme, muitas delas, surgiram em 2005 no álbum Garçon d’Honeur, o primeiro de músico francês Alex Beaupain, cantautor de afinidades com nomes recentes da nova canção (pop) francesa de travo alternativo e algumas traduziam já então o sentido de perda da morte, recente, da namorada do músico. Amigo de longa data de Honoré, e para quem compôs e gravou a canção da marcante cena do telefonema no final de Dans Paris, Beaupain transportou parte da sua experiência pessoal e as suas canções para a história que aqui se apresenta, ao lote de Garçon d’Honeur juntando outras expressamente compostas para determinadas sequências do filme. Com carga narrativa e cantadas pelas vozes dos próprios actores (Louis Garrel, Chiara Mastroiani, Ludivine Sagnier ou Gregoire LePrince Ringuet), as canções são, contudo, apenas um dos argumentos em favor deste assombroso feito de cinema. Como no seu filme anterior, Honoré olha a cidade, usa-a não apenas como cenário mas também como contexto de espaço e tempo onde a história acontece. São evidentes as marcas de admiração cinéfila pelo cinema de Demy, e também claras as heranças da Nouvelle Vague. Mas, filme a filme, Christophe Honoré vai desenvolvendo uma linguagem.Por linhas curtas, esta é a história de várias relações na Paris de hoje. Isamaël (Garrel) trabalha num jornal, a horas desencontradas com tudo e todos, inclusivamente Julie (Sagnier) com quem vive uma relação a três, o terceiro elemento sendo uma sua amiga e colega de trabalho... Um acontecimento súbito baralha os peões do jogo. E novas ligações e relacionamentos acabam por se desenhar e evoluir, muitos ao sabor do inesperado... Uma perda, um novo amor, uma outra sexualidade. Entre canções, histórias de figuras de carne e osso, seguras na sua caracterização, fortes ingredientes para um dos melhores melodramas dos últimos anos. – N.G.
As canções que escutamos neste filme, muitas delas, surgiram em 2005 no álbum Garçon d’Honeur, o primeiro de músico francês Alex Beaupain, cantautor de afinidades com nomes recentes da nova canção (pop) francesa de travo alternativo e algumas traduziam já então o sentido de perda da morte, recente, da namorada do músico. Amigo de longa data de Honoré, e para quem compôs e gravou a canção da marcante cena do telefonema no final de Dans Paris, Beaupain transportou parte da sua experiência pessoal e as suas canções para a história que aqui se apresenta, ao lote de Garçon d’Honeur juntando outras expressamente compostas para determinadas sequências do filme. Com carga narrativa e cantadas pelas vozes dos próprios actores (Louis Garrel, Chiara Mastroiani, Ludivine Sagnier ou Gregoire LePrince Ringuet), as canções são, contudo, apenas um dos argumentos em favor deste assombroso feito de cinema. Como no seu filme anterior, Honoré olha a cidade, usa-a não apenas como cenário mas também como contexto de espaço e tempo onde a história acontece. São evidentes as marcas de admiração cinéfila pelo cinema de Demy, e também claras as heranças da Nouvelle Vague. Mas, filme a filme, Christophe Honoré vai desenvolvendo uma linguagem.Por linhas curtas, esta é a história de várias relações na Paris de hoje. Isamaël (Garrel) trabalha num jornal, a horas desencontradas com tudo e todos, inclusivamente Julie (Sagnier) com quem vive uma relação a três, o terceiro elemento sendo uma sua amiga e colega de trabalho... Um acontecimento súbito baralha os peões do jogo. E novas ligações e relacionamentos acabam por se desenhar e evoluir, muitos ao sabor do inesperado... Uma perda, um novo amor, uma outra sexualidade. Entre canções, histórias de figuras de carne e osso, seguras na sua caracterização, fortes ingredientes para um dos melhores melodramas dos últimos anos. – N.G.
Friday, March 21, 2008
Keillers Park chega à Europa em DVD
Até aqui apenas com lançamento em DVD no mercado norte-americano, o filme Keillers Park, que integrou a secção competitiva de longas metragens do Queer Lisboa 11, vai finalmente ter lançamento em DVD em mercados europeus. O primeiro dos países a assegurar o lançamento deste filme de Susanna Edwards será o Reino Unido, numa edição pela Pecadillo Pictures, agendada para 26 de Maio. O filme retrata o cenário que envolveu a história real de um crime de ódio que aconteceu num parque da cidade de Gotenburgo, na Suécia, em 1997, que vitimou um emigrante magrebino de 37 anos.
Tuesday, March 18, 2008
Histórias de Nova Iorque
Conhece edição em DVD entre nós um dos filmes mais premiados em festivais de cinema gay e lésbico da presente década, brindado também com o Grande Prémio do Júri, em Sundance, em 2004. Trata-se de De Irmão Para Irmão (no original Brother To Brother), escrito e realizado por Rodney Evans, e que representa mais que apenas uma narrativa de temática gay, um olhar sobre um movimento cultural que abalou as estruturas morais da América negra dos anos 20.
O filme divide o protagonismo entre duas figuras de gerações distintas, mas com interesses e alguns traços característicos em comum. É-nos primeiramente apresentado Perry Williams (Anthony Mackie), um estudante de artes que vive na Brooklyn de finais dos anos 80. Frequenta uma cadeira que discute a identidade cultural e política afro-americana, e toma como exemplo para outras formas de discriminação entre os discriminados a memória da escrita de Bruce Nugent, poeta e pintor com papel determinante na Harlem Renaissence (movimento artístico que gerou polémica entre a comunidade negra nova-iorquina de 1919 até meados dos anos 30) e que, em 1926, publicou o primeiro conto escrito por um negro americano usando personagens explicitamente homossexuais. Relegando para segundo plano a vida pessoal do estudante (a expulsão de casa dos pais, as suas relações de amizade e a frustrada demanda pelo amor), o filme ganha fôlego quando a vida de Perry se cruza com a de Bruce Nugent, agora um idoso sem-abrigo. O admirador e o admirado trocam ideias. Bruce (Larry Gilliard Jr) partilha memórias, encontrando assim a narrativa pontes entre dois tempos, o do presente, onde as palavras se trocam e a acção flui e o do passado, onde a memória, com a patine do preto e branco, recorda como, por vezes, só a capacidade de sonhar dos artistas rompe fileiras para dar visibilidade a vozes menos capazes de se fazer escutar. Imagens reais da Nova Iorque negra dos anos 20 cruzam este constante diálogo entre o antes e o agora, conseguindo o realizador nunca largar as rédeas de uma história que, apesar de viver sobretudo de uma evocação, sabe que tem personagens no presente sem as quais o lembrar da memória seria inconsequente.
O filme divide o protagonismo entre duas figuras de gerações distintas, mas com interesses e alguns traços característicos em comum. É-nos primeiramente apresentado Perry Williams (Anthony Mackie), um estudante de artes que vive na Brooklyn de finais dos anos 80. Frequenta uma cadeira que discute a identidade cultural e política afro-americana, e toma como exemplo para outras formas de discriminação entre os discriminados a memória da escrita de Bruce Nugent, poeta e pintor com papel determinante na Harlem Renaissence (movimento artístico que gerou polémica entre a comunidade negra nova-iorquina de 1919 até meados dos anos 30) e que, em 1926, publicou o primeiro conto escrito por um negro americano usando personagens explicitamente homossexuais. Relegando para segundo plano a vida pessoal do estudante (a expulsão de casa dos pais, as suas relações de amizade e a frustrada demanda pelo amor), o filme ganha fôlego quando a vida de Perry se cruza com a de Bruce Nugent, agora um idoso sem-abrigo. O admirador e o admirado trocam ideias. Bruce (Larry Gilliard Jr) partilha memórias, encontrando assim a narrativa pontes entre dois tempos, o do presente, onde as palavras se trocam e a acção flui e o do passado, onde a memória, com a patine do preto e branco, recorda como, por vezes, só a capacidade de sonhar dos artistas rompe fileiras para dar visibilidade a vozes menos capazes de se fazer escutar. Imagens reais da Nova Iorque negra dos anos 20 cruzam este constante diálogo entre o antes e o agora, conseguindo o realizador nunca largar as rédeas de uma história que, apesar de viver sobretudo de uma evocação, sabe que tem personagens no presente sem as quais o lembrar da memória seria inconsequente.
Wednesday, March 12, 2008
Filme de concerto ao vivo dos Erasure
estreia no festival de Londres
A 22ª edição do London Gay And Lesbian Film Festival, que decorre de 27 de Março a 10 de Abril no National Film Theatre (South Bank) em Londres, inclui na programação a estreia de um novo documentário musical. Trata-se de Erasure: Live At the Royal Albert Hall, filme-concerto que documenta uma noite de revisão de carreira do duo britânico. Entre os muitos filmes que a edição deste ano do festival londrino está incluído I'm Not There, de Todd Haynes, que terá estreia nacional a 27 de Março.
Tuesday, March 11, 2008
Au Delà de La Haine editado no Reino Unido
O filme de Olivier Meyrou, Au Delà de La Haine, que venceu o prémio de Melhor Documentário na 10ª edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, já disponível em DVD em França e Alemanha há algum tempo, vai ser brevemente lançado no mercado britânico. A edição é da responsabilidade da First Run Features e inclui o filme na sua versão original, em francês, com legendas em inglês. Na edição britânica, o filme será comercializado com o título Beyond Hatred. Este é o único documentário sobre temática LGBT que, para já, consta da lista de lançamentos oficiais de DVD no Raino Unido, nos meses de Abril e Maio.
Monday, March 10, 2008
Sexo, drogas e rock'n'roll
Baseado no romance homónimo de Brian Aldiss (Brothers Of The Head, originalmente publicado em 1977), Até Que A Morte Os Separe, realizado em 2005 pela dupla de realizadores Keith Fulton e Louis Pepe passou ao lado das atenções quando, em finais de 2007, chegou ao circuito português de DVD. Na essência, este é um filme sobre cultura rock’n’roll, com acção projectada na Inglaterra de meados de 70, em tempo de revolução de hábitos e sons, via. Mais ainda, o filme nasce próximo da linguagem do documentário, apresentando-se como um “mockumentary” (um documentário ficcionado), propondo-nos assim uma ideia de filme dentro de um filme. No centro da acção estão Tom e Barry, uma dupla de irmãos siameses, ligados pela barriga que, dotados de invulgares talentos musicais, são alvo da atenção de um ambicioso e oportunista agente que rapidamente os transforma em Bang Bang, a banda tornando-se uma emergente sensação da cena pop/rock de então, até que algo corre mal...
Não se trata de um filme explicitamente gay, mas em Até Que A Morte os Separe, a questão da(s) sexualudade(s) é quase tão central quanto a trama musical que define a história. O relacionamento dos irmãos é, então, o ponto de partida para toda a história, a sua sexualidade emergindo distinta quando um deles se envolve com uma jornalista que procura fazer uma reportagem sobre a banda e, mais tarde, numa festa, vemos o outro pontualmente envolvido com um homem. A eventual homossexualidade de Tom nasceu no trabalho de adaptação do romance, não fazendo portanto parte do quadro de ideias do romance de Aldiss no qual, de resto, se explora a tomada de consciência de uma terceira identidade, também siamesa, ligada aos gémeos. Uma reflexão sobre a inevitabilidade de uma ligação permanente, com condimentação de sexo, drogas e rock’n’roll, Até Que A Morte os Separe revela cuidado na construção não só da narrativa como do contexto. Aqui, de resto, ao sugerir os Bang Bang como um eventual elo perdido entre o proto-punk nova iorquino, o glam rock britânico e o punk na terra de Sua Majestade, o filme acaba por se revelar um dos mais curiosos exemplos de ficção sobre cultura rock’n’roll que o cinema conheceu na presente década.
A muito recente edição portuguesa de Até Que a Morte os Separe em DVD, assegurada pela Lusomundo, junta ao filme uma pequena selecção de extras, entre os quais um extenso conjunto de entrevistas (com os realizadores, argumentista, autor da música e actores), 11 minutos de imagens da rodagem do filme (revelando, por exemplo, o laborioso trabalho de caracterização dos dois irmãos actores ou uma momento de filmagens de concerto ao vivo) e um curto documentário que sistematiza e arruma ideias centrais sobre o filme.
Não se trata de um filme explicitamente gay, mas em Até Que A Morte os Separe, a questão da(s) sexualudade(s) é quase tão central quanto a trama musical que define a história. O relacionamento dos irmãos é, então, o ponto de partida para toda a história, a sua sexualidade emergindo distinta quando um deles se envolve com uma jornalista que procura fazer uma reportagem sobre a banda e, mais tarde, numa festa, vemos o outro pontualmente envolvido com um homem. A eventual homossexualidade de Tom nasceu no trabalho de adaptação do romance, não fazendo portanto parte do quadro de ideias do romance de Aldiss no qual, de resto, se explora a tomada de consciência de uma terceira identidade, também siamesa, ligada aos gémeos. Uma reflexão sobre a inevitabilidade de uma ligação permanente, com condimentação de sexo, drogas e rock’n’roll, Até Que A Morte os Separe revela cuidado na construção não só da narrativa como do contexto. Aqui, de resto, ao sugerir os Bang Bang como um eventual elo perdido entre o proto-punk nova iorquino, o glam rock britânico e o punk na terra de Sua Majestade, o filme acaba por se revelar um dos mais curiosos exemplos de ficção sobre cultura rock’n’roll que o cinema conheceu na presente década.
A muito recente edição portuguesa de Até Que a Morte os Separe em DVD, assegurada pela Lusomundo, junta ao filme uma pequena selecção de extras, entre os quais um extenso conjunto de entrevistas (com os realizadores, argumentista, autor da música e actores), 11 minutos de imagens da rodagem do filme (revelando, por exemplo, o laborioso trabalho de caracterização dos dois irmãos actores ou uma momento de filmagens de concerto ao vivo) e um curto documentário que sistematiza e arruma ideias centrais sobre o filme.
Monday, March 3, 2008
Glue sai em DVD no Reino Unido
O filme Glue, de Alexis dos Santos, que integrou a secção competitiva de longas metragens de ficção no Queer Lisboa 11, acaba de ser editado em DVD no Reino Unido. O filme mostra-nos uma narrativa com cenário argentino, numa pequena aldeia, no meio de nada, em plena Patagónia. Cidade na qual conhecemos dois rapazes e uma rapariga, entre os quais surge uma invulgar história de apatia, tensão e atracção... O DVD, editado pela Parasol Pictures, apresenta o filme na sua versão original, com legendas em inglês. Como extras conta-se apenas um pequeno making of, cenas cortadas, uma galeria de imagens do filme e trailers do catálogo da distribuidora. Não há, por enquanto, quaisquer indicações sobre um eventual lançamento nacional do filme em DVD.
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